A novidade não está em Abraão partir (quantos povos sempre se movimentaram por razões de sobrevivência, ainda hoje com tantos dramas de fome e de guerra?): está na confiança naquele que o chama. Mais importante que o longo caminho ou a meta a alcançar, o que é nova é esta descoberta de Deus que caminha entre os homens. E imprime no coração e na vida dos que aprenderam a escutá-l'O esta disponibilidade constante para partir. Todas as tentativas de fazer coincidir a Aliança e o Reino de Deus com construções históricas acabadas revelaram-se desilusões, mas o caminho de Deus com os homens é para realizar, já na história, a justiça, a paz e o amor que o próprio Deus é. Então, saber com quem se vai é mais importante do que qualquer mapa!
Num espantoso conto de Sophia de Mello Breyner Andresen, intitulado "A Viagem", um casal perde-se e procura o caminho certo, percebendo que não pode voltar de novo às encruzilhadas onde escolhera um dos caminhos. É uma viagem "parábola" da nossa vida em que procuramos, tantas vezes, agarrar o que já passou. No final do conto, quando percebe que tudo vai perder, a mulher já sozinha diz: "Do outro lado do abismo está concerteza alguém. / E começou a chamar." Não se pode partir sem aprender a perder.
Com Abraão e no Monte Tabor é Deus quem tem a iniciativa em falar. Aos discípulos convida a deixar Moisés e Elias desaparecerem para que escutem o seu Filho. Estamos disponíveis para partir com Jesus? »
Texto de P. Vítor Gonçalves (DOMINGO II DA QUARESMA Ano A)
Imagem de Rita Correia (in http://www.esca.pt/Exposicoes/8-RitaCorreia/biografia.htm)
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